domingo, 21 de setembro de 2014

LEI Nº. 11.645 DE 10 DE MARÇO DE 2008


Você já ouviu falar nesta lei nº 11.645?
Então nós adeptos da cultura “Afro-Brasileira e Indígena” temos o dever ter conhecer esta lei, por quê?
Vejam abaixo o que essa lei descreve:

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o  O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e histórias brasileiras.” (NR)
Art. 2o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,  10  de  março  de 2008; 187o da Independência e 120o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Fernando Haddad

Eu acredito que pelo viés da educação, podemos adquirir o respeito devido a nossa cultura, nossos ancestrais negros e indígenas já foram por de mais vilipendiados, o nosso estado brasileiro não pode ignorar a nossa história.
 98% das escolas ainda não cumprem esta lei, sabe por quê?
Por que ainda não temos representantes comprometidos com o nosso povo.

Vejam o vídeo abaixo, escute a fala do Babalorixá e Juremeiro Sandro de Jucá:


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O Poeta do Catimbó

Babalorixá e Juremeiro Sandro de Jucá, sempre nos impressiona com seus textos
e muitos textos que ele publica em sua pagina no Facebook é regado de versos e prosas
criadas por ele e muitas das vezes relatando algo importante.
Vejam no vídeo abaixo na voz de Eric Assumpção.
Obs.: O Texto estará abaixo do vídeo!!!


O POETA DO CATIMBÓ

No dia de minha morte física que ninguém seja privado de observar meu rosto.
Ao fita-lo possam se despir de suas emoções sejam elas de remorso regozijo ou até de desgosto.
Lembrem que naquele féretro, encontrasse um invólucro de muito amor, dedicação e coragem, coisas de ontem esquecida no hoje, pois isso é a vida em nossa peregrinação.
Uma coisa eu tenho certeza, que a mim serão ofertadas lembranças em forma d'água oriundas do coração.
Alguém será capaz de sorrir e agradecer por minha ida, mas mesmo nela escondida a raiva de nunca ter me vencido.
O que não poderão dizer que ali se vai um covarde, mentiroso, atroz e bandido que enganou os perdidos no uso de sua fé.
Disso nego e renego até agora na escrita, palavras que foram ditas por alguns de meus algozes, não tenho medo da luta, tenho Deus em oração.
As fumaças do meu cachimbo que me foi dada pela Jurema, sempre me aprumaram o caminho e transformou em gatinho o mais brabo leão.
Sempre fui agradecido pela pedra e o pão, cada um só dá o que tem e nunca neguei a ninguém a estendida da mão.
Sei que sou chato brigão arengueiro mais sempre fui verdadeiro quando chamei alguém de amigo, nunca fiquei escondido abraçado à covardia.
Se dizendo amigo num dia e no outro fazendo cena, cobri minha cabeça de penas para defender minha fé, dessa nunca me envergonhei e sempre participei das boas lutas por ela, mais isso para mim sempre foi exercício de alegria.
Aos inimigos aviso logo, isso não é uma despedida são relatos de minha vida que brinco de poesia.
Enquanto Deus me autoriza a viver mais um pouco sigo a minha lida de forma nobre e correta entre fumaças dispersas.
Aprendi com minha avó que na terra do catimbó também tem homem poeta,
É PAU GUINÉ!!!
Babalorixá e Juremeiro Sandro de Jucá

sábado, 19 de julho de 2014

Desculpe a demora!!!
Mais esta aqui o bate papo com o Juremeiro Kleber Damasceno!!!
Confira ai e ajude a compartilhar isso é importante para nosso povo!!!
A cada bate papo pode parecer que não tem representatividade nenhuma, galera!!! Tem sim e muito, pois isso fortalece os pensamentos dos mais novos a lutar pela nossa "Cultura de Terreiro"... Por isso eu peço a todos que compartilhem, me ajude, nos ajude nessa batalha de um trabalho em prol da coletividade!!!
Um forte abraço a todos!!!

Eric Assumpção




domingo, 18 de maio de 2014

Pedido de ajuda... Apelo... Conscientização!!!


Assistam ai mais um Audio/Vídeo em nosso Canal!!!
O Canal da Jurema Sagrada!!!
Entrevista realizada pelo Juremeiro Neto, junto aos seus afilhados de Jurema na cidade de Buenos Aires na Argentina.
Essa entrevista é um pedido de ajuda aos irmãos e irmãs "Umbandistas e Candomblecistas" do Brasil para ajudar ao irmãos e irmãs de outros Países.
Escute o apelo!!! Pois você entendera o motivo do apelo!!!
Ajude a compartilhar este vídeo, precisamos de uma rápida conscientização do povo de terreiro.
Se inscrevam em nosso canal no youtube clique aqui Canal da Jurema Sagrada

domingo, 23 de março de 2014

O que é a Rádio Jurema Sagrada

Foto de Tamara Vieira
Um trabalho desenvolvido por Eric Assumpção, junto com a colaboração de amigos e irmãos.

A Rádio Jurema Sagrada vem nesse meio virtual para fortalecer a luta do nosso povo, por isso que é muito importante todos participar, deste processo de iniciação e desenvolvimento.


A Rádio Jurema Sagrada não tem a visão de arrecadar valores, ou melhor, dizendo “dinheiro”, mais sim a valorização da nossa cultura o “Povo de Terreiro”.


Vamos efetuar bate papos com Babalorixás e Yalorixás, Juremeiros e Juremeiras, Zeladores e Zeladoras Umbandistas entre outras pertenças, claro mais só vamos conseguir com a ajuda de todos, então fica assim, para nos fortalecer precisamos dos senhores e das senhoras.


Arte Eric Assumpção

E Junto com este trabalho trazemos também o 
"Canal da Jurema Sagrada"
Um espaço que através de vídeos e imagens, mostramos um pouco de nossa "Cultura", todos podem enviar seus vídeos de suas festas ou eventos, como todos podem conferir os vídeos do VIII Kipupa Malunguinho, aonde amigos disponibilizaram arquivos para poder ser divulgado.
Confira ai clicando na imagem:
Arte Eric Assumpção
A proposta é que todos participem e juntos podemos realizar um lindo trabalho propositivo e sólido.

Axé!!!
Salve a Jurema Sagrada
Salve o Rei Malunguinho
Sobô Nirê Mafá!!!

sábado, 15 de março de 2014

Observações sobre a Jurema - Por Sandro de Jucá






    
         Hoje vejo muitos falando sobre os negros, sobre seu sofrimento, sua cultura, sua história...tornou-se até moda comentar "Sou negro, sou de candomblé"; porém pouco falam-se sobre os índios e seu sofrimento pela sua cultura. Lembrar-se-eis que antes dos negros, os índios já sofriam um genocídios patrocinado por setores da Igreja católica, onde as mesmas mãos beijadas e reverenciadas por seus vassalos apoiavam estupro e assassinatos, usando o nome de Jesus.
     
       Hoje passamos por um período ímpar...temos que levantar o tapete da historiografia e mostrar a verdade ao povo....São templos erguidos em cima do sangue dos índios, de grandes nações. Quando alguns, que se intitulam sacerdotes de candomblé ousam falar de intolerância, devem atentar práticas que infelizmente tangem contra à Jurema Sagrada. A verdadeira Jurema Sagrada não admite badernas que indivíduos intitulados de Sacerdote exercem.

     "Um verdadeiro circo de horrores, regado à patifaria, pedofilia e canalhismo" Danoso à qualquer religião. A podridão eclesiástica que vemos em todas as religiões é culpa do "religioso", jamais da religião. Quando refiro-me à "setores", dirijo-me à pessoas que se infiltram exclusivamente para badernas ou obter lucros financeiros de alta monta para benefício próprio.

      Toda religião tem em seu alicerce o respeito ao próximo, o amor e a caridade. A Jurema Sagrada tem liturgia própria, tem preceitos e seguimento. Não é só empunhar o cachimbo e dizer-se "juremeiro" , como atualmente têm acontecido no candomblé. Na liturgia, vem às folhas, cama, encanto, cidades de jurema...etc....para afirmar-se sim "juremeiro" e aí vai a minha mensagem aos oportunistas de plantão : "Baixem a bola!"

       Não podemos, como em outrora, historicamente, patrocinar o "intolerável".

      Aqui em Pernambuco, tivemos um Yalorisà muito importante; Sra. Lídia, que também era juremeira (isso ninguém, nem seus descendentes podem negar). Não podemos viver um "canibalismo litúrgico". Minha cultura não aceita esses, em detrimento de tantos outros verdadeiros. Tais esses que se comportam sem ter se quer a o moral dentro da própria religião que professa. São estórias escabrosas de Babás e Yás envolvidos em assédios, tráfico de drogas, roubos, e muitos outros atos... Mas nem por isso podemos culpar a religião.

      Cobrar caro, ganhar muito dinheiro, isso é o que importa??? Se esses mesmos indivíduos são desprovidos de caráter e não valem nada. Portanto o meu recado aos marmoteiros de plantão; "a jurema é preta e de amargar, tem espinhos e pode furar". A flechada ou cachimbada bem firmada faz milagres....

         Essas são as observações de um juremeiro, babalorisà que tem história na jurema e no candomblé, que ama o que faz, porque sem amor nada vale à pena. 
       
       
              PEÇO AOS AMIGOS QUE POR FAVOR REPASSEM ESSE TEXTO PARA O MÁXIMO DE PESSOAS QUE PUDEREM PRINCIPALMENTE POVO DE CANDOMBLÉ. MINHA HISTÓRIA ME CHANCELA ESSE DIREITO.


                                                                                                                                   (Sandro de Jucá)
















































Fonte Blog Babalorixá e Juremeiro Sandro de Jucá

Re-consagração de Malunguinho - Uma transmissão familiar de ancestralidade e ciência na Jurema

Malunguinho. Festa da Lavadeira 2011. Foto de Thiago Angelin Bianchetti.

Re-consagração de Malunguinho
Uma transmissão familiar de ancestralidade e ciência na Jurema

*Alexandre L’Omi L’Odò

Cheguei à minha casa pensando em registrar em texto a vivência que tive com a Jurema. Vi coisas bonitas e senti coisas importantes... Este é um texto de registro histórico.

Hoje, dia 06 de agosto de 2011, foi a data da re-consagração de Malunguinho, um fato histórico de sucessão hierárquica na Jurema. Todo acontecido religioso foi possível por causa do juremeiro João Folha, já renascido para a espiritualidade. Um dos mais tradicionais e antigos juremeiros da região do Jordão Baixo no Recife/PE, falecido no dia 15 de maio 2011 de complicações cardíacas, deixando o terreiro “Mensageiros da Fé”, casa regida pela cabocla Iracema, com mais de 43 anos de funcionamento, sendo o mais antigo terreiro de Jurema e culto nagô deste bairro. O terreiro também é regido pela divindade Malunguinho, que tem um espaço especial no terreno, sendo o único que “mora só”, com culto próprio e específico. Malunguinho foi o regente de Seu João Folha, que era filho de Xangô com Oxum, mas tinha no culto da Jurema sua maior sustentação e fé.

O templo se estabeleceu na localidade que há 70 anos era conhecida como Sítio das Cacimbas e, depois se tornou popular com o nome de “Bica de Seu João Folha”, terras da família de Dona Dora, que há quatro gerações se mantém residindo.

Dona Dora. Mestra Juremeira e Iyalorixá. Foto Diego Nigro.

O terreiro foi fundado por Dona Dora, “filha de santo” do falecido Genival Francisco de Araújo, da Rua Orubatanga, no Córrego da Gameleira/Recife, e depois de Seu Luiz da Guia (Luiz José de Santana), que hoje se encontra com 98 anos de idade. E Seu João Folha, em 17 de abril de 1968 no mesmo local onde hoje está estabelecido. Mas, Dona Dora já tinha culto pelo menos há cinco anos antes em um local no mesmo Sítio de sua família, próximo a atual localidade.

Os motivos da abertura da casa foram os problemas de saúde que abateram a sacerdotisa, a pressionando a fundar o local onde suas divindades e entidades iriam ter morada definitiva. Oyá Egunitá, seu “Orixá de cabeça”, o Mestre Zé Malandro, Galo Preto, Mestra Georgina, Seu Tranca Rua das Almas entre outras e outros, fizeram da Rua Fernandes Belo, n° 611, o caminho para ajudar os necessitados, trazendo a cura e a iniciação, dando caminho e orientação, ajudando a preservar a memória dos índios e negros que deixaram essa missão para ela e tantos outros.

Foram 55 anos de casados. Tiveram 9 filhos, mais de 16 netos e 7 bisnetos. Dentre estes e estas está Rosemary de Fátima, conhecida como Mary, filha de Oxum e herdeira do axé de Malunguinho. Casada com filhos, ela foi a escolhida pela Jurema para perpetuar a ciência de seu pai, que tinha em Malunguinho uma fé incondicional, mesmo não o recebendo em seu corpo com manifestações espirituais, ele cultuava Malunguinho com tanto afinco e adoração que as pessoas até o questionavam brincando: “o senhor fala mais em Malunguinho que em Deus”... Dona Dora ainda diz: “o Deus dele era Malunguinho, pois ele tinha tanto amor por ele que tenho certeza que ele está feliz com sua filha o ter herdado, inclusive manifestando-se, trazendo sua ciência para todos verem”.

O fato da transmissão familiar da ciência é uma circunstância não muito comum dentro dos terreiros de Jurema. O que assistimos frequentemente é quando um juremeiro ou juremeira antigo ou antiga morre, seus objetos rituais e sua história são jogados fora pelos seus filhos e netos e sacerdotes responsáveis. Os motivos desta atrocidade cultural são os mais diversos como a responsabilidade em ficar cultuando algo que não é seu, não ter ninguém da família pertencente a religião, até mesmo o desrespeito completo com a ancestralidade e a falta de conhecimento sobre os procedimentos corretos dos rituais. Isso vem fazendo grande parte da história da Jurema se apagar e cair no completo ostracismo. Mas com o caso de Seu João Folha foi diferente, sua história se manteve viva na família com toda legitimidade e consciência.

Mary. Filha carnal de Dona Dora e herdeira da ciência de Seu João Folha. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Desde pequena Mary vinha se “manifestando” com Malunguinho, e Dona Dora já pressentia que este iria ficar na casa, para segurar o axé do terreiro, através de sua filha que iria ficar responsável pelos assentamentos de seu pai. Fato este que, todos os filhos e filhas e freqüentadores do terreiro celebraram com muita alegria, pois Malunguinho se confirmou e pronunciou publicamente dirigindo-se ao sacerdote Sandro de Jucá, responsável pelas suas cerimônias e culto e a Dona Dora, estar “muito satisfeito com as oferendas ofertadas a ele”. Ele dançou, brincou, celebrou, cantou, comeu, bebeu e fumou, saudou seus protegidos e agradeceu. E de fato, a força de Malunguinho se fez presente no barracão. Todos sentiram a forte energia que emanou de dentro da casa onde ele mora. Frutas, bebidas, fumos, velas e animais compuseram suas oferendas. Assim se fez parte da re-consagração de Malunguinho, que agora passa a ser zelado por Mary. As armas e símbolos da divindade (preaca, estrela de seis pontas, volta de ave-maria, cipó de japecanga, cachimbo e sementes) foram repassadas pela antiga Juremeira Dona Rita de Malunguinho, que tem 74 anos de iniciada no culto à Jurema e 89 anos de idade. Ela, que é irmã de Jurema e de axé de Sandro de Jucá, também de Seu João Folha, sendo eles iniciados pelo falecido Grivaldo de Xangô, conhecido como Pai Brivaldo de Xangô, discípulo do Mestre Zé da Pinga, formalizaram um ato familiar do mesmo axé e ciência, firmando laços de consideração religiosa pelos irmãos mais velhos que tem o direito de repassar objetos sagrados aos mais novos.

Malunguinho "manifestado" em Mary. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

Mary, recebendo as armas de Malunguinho pela juremeira Dona Rita de Malunuginho. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

Confraternização. Mary e Dona Rita de Malunguinho. Foto de Alexandre L'Omi L'Odò.

Mary firmando na Cidade de Malunguinho. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Como é de tradição das casas mais antigas de Jurema e Candomblé (Xangô) de Pernambuco cultuar Exú no mês de agosto, a Casa de Dona Dora não poderia deixar de realizar os rituais e liturgias de sempre, pois mesmo a Casa estando de luto pelo falecimento de Seu João, Malunguinho solicitou suas “abrigações” e permitiu que os rituais dos Trunqueiros/Exús fossem todos realizados, mesmo que sob a regra do silêncio dos Ilús (instrumentos sagrados de percussão), sendo permitido apenas o uso das macas e palmas de mão para dar o ritmo aos cânticos rituais.

Todo ritual foi regido pelo juremeiro e babalorixá Sandro de Jucá e pela iyalorixá e Mestra juremeira Dona Dora, que como sempre, deram o tom adequado aos ritos, trazendo informações/elucidações e boa energia. Foi feita a limpeza de agosto tradicional com as aves e velas e todos cantaram toadas de limpeza:

“É na Jurema, é na Jurema, to me limpando é na Jurema”...

Os cachimbos acesos, fumaçando os desejos, levando à Jurema os pensamentos, estiveram presentes todo o tempo nos rituais, com a variação do uso do fumo preto e do fumo mais suave.

Juremeiro Sandro de Jucá, abrindo os cânticos no quarto de Malunguinho. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

A fala de Sandro sobre a família de Dona Dora e as responsabilidades no terreiro com a continuidade das práticas após o falecimento de seu fundador, reuniu antes de iniciar as imolações todos dentro do salão da Jurema. A fala foi de fundamental importância para informar aos presentes e aos filhos Ricardo Gonçalves e Luiz Gonçalves e ao neto Luiz Carlos Jr. Que com a “ausência” de Seu João, as práticas tradicionais da casa não mudariam em nada. Todas as normas estruturadas por Seu João durante sua gestão no terreiro se manterão completamente, sendo sempre relembradas por Sandro e Dona Dora. Agora Seu João é um Esá (ancestral ilustre) no Balé - Ilé Ibó Akú (casa de adoração aos mortos) do terreiro, e de lá vigiará as atividades dentro da casa. Sandro ainda colocou que “a casa não é dele”, e que ele está ali apenas para dirigir os rituais e organizar as funções referentes a um babalorixá e juremeiro. Sandro, pediu para que os filhos carnais de Dora estivessem sempre presentes na casa para observar de perto o que acontecia e que eles dêem força a sua mãe, pois ela está sofrendo opressão de uma de suas filhas que é evangélica neopentecostal, que está tentando convertê-la para que ela feche o terreiro e venda o terreno para dividir o dinheiro entre os herdeiros. As investidas dessa filha têm perturbado Dona Dora demais. E isso compromete as praticas dela, pois dentro de sua própria casa ela esta sofrendo a intolerância religiosa e o preconceito. Os filhos se comprometeram em ajudar e concordaram com a conversa toda. Depois dessa reunião, os trabalhos começaram com muita animação, invocando os Trunqueiros, como Seu Tranca Rua, que foi o primeiro a receber as homenagens em seu mês.

Sandro de Jucá (ao centro de vermelho) discursando ao terreiro. Sentada Dona Dora, em pé seus dois filhos. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Neto Luiz Carlos Jr e filhos Ricardo Gonçalves e Luiz Gonçalves. Foto Alexandre L'Omi L'Odò.

Os rituais seguiram tranquilamente, com muita participação dos presentes. Depois dos Trunqueiros, os rituais foram dedicados à Malunguinho, com a re-consagração de Mary e depois veio a vez das pombojiras, que animaram o salão com suas características sedutoras e dinâmicas. Contudo, a festa foi bonita de observar, mas faltava um dos responsáveis - o Seu Vira Mundo, também conhecido como Bate Porteira. Ele “desceu” em Sandro de Jucá próximo a meia noite e ai a festa foi completa... O coco tomou conta do salão, puxado pelo Seu Vira. Eu cantei, Seu Vira cantou, depois chegou o Seu Zé Malandro, Mestre da sacerdotisa, que também entoou cocos conhecidos. Seu Vira Mundo entoou um coco característico da espiritualidade de um trunqueiro de Jurema e deixou o salão a prestar atenção:

“Na minha Cidade existe três reinados encantados, um é feio, outro é bonito e o outro é mal-assombrado”...

Pai Lula de Ogodô, babalorixá responsável pelo axexê de seu João Folha também cantou e relembrou os antigos cocos cantados por seu pai carnal, nos tempos que o levava para “os cocos” de Recife adentro... O terreiro todo celebrou a vida junto aos mestres e pombojiras que estavam presentes no salão. A cena em si foi muito bonita, pois nela tinha uma harmonia e uma consciência muito clara de que o povo de terreiro encara a vida assim como encara a morte, e esta visão filosófica se traduziu com a pisada forte do coco, ritmo, cântico e dança do nordeste brasileiro e as palmas de mão com as respostas. Uma banda musical de maracás, abês, e um balde se fez no momento e pessoas que em sua vida cotidiana, como médicos, professores entre outros, não se relacionam com a liberação do corpo e da alegria interna de existir, se revelaram tocadores e dançarinos alegres, soltos e vibrando na energia da Jurema. Entidades e pessoas vivas, celebrando juntos à vida, em uma demonstração perfeita, contida de toda teoria antropológica da observação, fenomenologia, semiótica etc... Traduzida em uma frase: “A Jurema abala, e seus discípulos não tombam”.

Acordei no terreiro. Dormi no salão dos Orixás, local separado do salão da Jurema. Dona Dora não me deixou ir embora às 1h30min da manhã, forrando pra mim um colchão no chão com o Alá de Oyá, pano que cobre o Orixá em suas saídas de quarto no culto nagô em PE. Foi uma enorme satisfação, poder contar com o respeito, cuidado e confiança de uma sacerdotisa tão antiga como ela. Acordei às 7h, ao som de uma chata música evangélica, que saia do celular de Beto de Iyemojá, que só dorme escutando este tipo de música, pois diz que lhe dá sono e relaxa. Pode isso? Rsrs.

Tomei um cafezinho esperto feito no fogão à lenha com um pãozinho e queijo preparados pelas iyabás da casa e logo fui embora, pensando em escrever este texto, para registrar minha alegria em poder viver junto a pessoas tão especiais e religiosas como as que pude estar. Este foi o melhor presente antecipado de aniversário que pude me dar.

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*Alexandre L’Omi L’Odò - Graduando em História pela UNICAP, Egbomi de Oxun, Juremeiro e coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho.

Este texto foi construído com entrevistas consedidas por Dona Dora e Sandro de Jucá.

Dedico este texto à Seu João Folha e a Malunguinho, pelo axé que me banharam.


Alexandre L'Omi L'Odò
alexandrelomilodo@gmail.com
 
Fonte Blog Quilombo Cultural Malunguinho

Malunguinho, Negro Guerreiro/Divino de Pernambuco


Foto de Laila Santana
A liberdade e a terra eram o sonho dos Malunguinhos. No século XIX, parte das terras localizadas em Olinda eram improdutivas, fator que desencadeou a luta pelo desenvolvimento agrário. Unidos pelos mesmos ideais, grupos de resistência como os canoeiros que transportavam água limpa para o centro da província se uniram a negros, índios e inúmeros refugiados. O quilombo sempre foi um local de agregação e tolerância, recebendo pessoas das mais diversas crenças e etnias.Pernambuco no século XIX viveu vários movimentos políticos. Da Revolução de Goiana, a Junta de Beberibe (1821), a Rebelião dos Romas (1829) e outros movimentos de libertação.Um dos movimentos de maior representatividade foi o dos negros do Quilombo de Malunguinho, quilombo "urbano ou semi-urbano", localizado nas terras conhecidas atualmente, como Engenho Utinga no município de Abreu e Lima, liderava outros quilombos da Mata Norte, tornando-se o principal centro estratégico de resistência.
Entre os anos de 1814 a 1837, implementaram varias ações contra o poder local constituído, naquele momento fragilizado pelos conflitos internos pelo poder e soberania.Os Malunguinhos desenvolveram técnicas de guerrilha, conhecidas até hoje, como os estrepes, espécie de lança, feita em madeira bem afiada, que enterradas em buracos escondidos na mata, continham os invasores dos quilombos, desenvolviam e organizavam ações de colaboração mutua com outros quilombos.
Enfrentado inúmeras adversidades, superioridade bélica e política dos colonizadores e do poder local, que protagonizam sangrentas batalhas contra os refugiados, estes homens e mulheres lutaram com dignidade para desenvolver a vida social e econômica negra da época.
Malunguinho Histórico - Malunguinho é o título dado aos líderes quilombolas pernambucanos que no século XIX fizeram ferver a capital na luta por seus direitos. O último Malunguinho que se tem registro é o João Batista, um dos maiores lideres da historia do quilombo, assassinado em emboscada cruel na cidade de Igarassú, chamada ainda na época de Maricota, ficando sua morte como marco crucial para a destruição total do Catucá em 18 setembro 1835.
Os relatos da existência dos quilombos do Catucá estão ainda hoje no Arquivo público estadual de Pernambuco, em manuscritos, jornais da época, documentos de terras, mapas e relatórios da polícia provinciana e documentos de todo o século XIX.

Malunguinho Divino - “Ele é preto, ele é bem pretinho, salve a coroa do Rei Malunguinho!”, esse cântico ainda soa nos terreiros de jurema nas localidades do Catucá. Vivo no imaginário religioso do nordeste, em especial no culto da Jurema Sagrada de Pernambuco, ele, ou eles, são conhecidos como Caboclo, Mestre e Exu.

O espaço do Catucá ainda é de Malunguinho, por existirem muitos cultos de Jurema nas localidades do quilombo, ele é conhecido até hoje como o Rei das Matas. É uma importante divindade neste culto, pois sua presença marca a abertura dos caminhos e a defesa da casa. Malunguinho ora estava em Olinda, ora era visto em Goiana, sendo estes aspectos difíceis de se entender, e justificados pela relação do Catucá com os segredos da fé negra e indígena. Assumindo o papel do mensageiro entre os mundos e o guardião, que continua até hoje na luta por liberdade, pois esta condição mesmo após morte é um eterno vir a ser, agregando novos Malungos para sua eterna guerra por direitos iguais para todos.
Alexandre L'Omi L'Odò
Salve Malunguinho!

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Bibliografia: Carvalho, Marcus J. M. de.
Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo. Recife, 1822 - 1850

*Acista a este vídeo referente a Malunguinho:
João Monteiro e L'Omi L'Odò no Sopa Diário discutindo sobre o tema na tv.
http://http//www.youtube.com/watch?v=QfAJG_JRPRI


Fonte Blog Quilombo Cultural Malunguinho
 

sexta-feira, 14 de março de 2014

Proposta da Rádio Jurema Sagrada

Este trabalho esta sendo desenvolvido por Eric Assumpção, para divulgar nossa "Cultura", para que o povo de Terreiro tenha um espaço para poder desenvolver uma ação de fortalecimento de nossas pertenças.
Com muita seriedade e respeito aos nossos "Ancestrais", vamos cobrando o nosso devido espaço seja entre as "Redes Sociais" ou dentro da "Sociedade", por isso esta sendo aberto este espaço, para todo o povo de terreiro, Candomblé e suas Nações, Jurema Sagrada, Umbanda e entre os mais diversos cultos de Terreiro existente em nosso País.
Contamos com a colaboração de todos para divulgação, até mesmo disponibilizando textos e entrevistas para podermos propagar a nossa pertença seja ela qual for!!!
Se junte vamos juntos neste lindo trabalho!!!
Aqui o que realmente importa não somos nós e sim a nossa "Ancestralidade a nossa Cultura".


Salve o Índio, Salve o Negro!!!
Salve a Jurema Sagrada!!!